sábado, 14 de maio de 2011

Conto de Fadas


- E é isso, minha filha - susurrou o pai, bem perto do ouvido de sua filha, com um timbre de voz bem equilibrado, doce e baixo. - E eles tiveram um final "Felizes para sempre".

- Mas como assim, papai? - indagou a criança - Não é cedo demais para parar de me contar a história?

- Como assim "cedo", querida? Papai tem que trabalhar amanhã bem cedinho e a história acaba aqui, no "Felizes para sempre".

- Não não - falou a criança, segura do que decretava - A história começa aí. Começou agora, e você já quer acabar com ela?


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

minha sombra.


deixei meus olhos nadarem num pequeno pingo d'água, onde vi um vasto mundo que não tinha fim. parecia que todo o universo fora dividido em dois: o meu, e o dos outros. era tão simples, parei para olhar, pisquei várias vezes e nada.. era a mais pura realidade, nada de mentiras ou ilusões desérticas.
pois senti meu coração bater, que já não caminhava no mesmo ritmo lento e suave, mas sim num jazz impiedoso, como se a canção tivesse num ritmo para lá de medieval. uma máquina rugia e trabalhava dentro dele, com muito óleo sobrando, desgastada.. agora machucando, torturando.. impiedosamente. nada mais me importava no momento, muito menos as chuvas de rubis e ágatas que ali deviam cair [se não no meu mundo]. aqueles forasteiros pés, que escaparam já muitas vezes de momentos contundentes e necessários, já não faziam a mesma maratona. e o que falar, se não, das plumas enferrujadas? Pareciam pesadas, cansadas, atadas. o sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz. naquele momento, porém, parecia que minha mente já não tinha o fluxo inesgotável de pensamentos plenos e ligeiros como antes. e, com meus olhos, olhava aquela imagem no pingo d’água. com toda essa degradação, meus olhos fechavam agora lentamente, com um olhar cansado, e de cabeça baixa, aceitava lentamente a situação, assim como as árvores tem que aceitar o nevoeiro e a perda de suas folhas.
porém, as flores renascem. as flores; já não mais eu. sentia o peso daquela física já me explicada mas nunca entendida rebater sobre mim – a gravidade – e, como já não tinha pernas sustentáveis, apoiei em minhas sombras. entendi que a física não é estudada e sim sentida, nada explica a naturalidade do mundo. mundo que, no meu, remoia e distorcia toda a realidade, jogando-a no maior abismo possível e torturando-a com aquela máquina fútil e desgastada dentro de meu ritmo medieval. seria também este o mundo das utopias e das idéias? sei que tempo não tinha, pois ele já corria mais que eu também. durante toda essa minha prosa, o tempo descruza e corre mais que um soneto clássico, e eu, mais uma vez, estava ali para trás, com minha última companhia. ela só não fora embora pelo simples fato de ser agregada em mim enternamente. ah, que os deuses sejam louvados, por mais que não sejam amados.. eu tinha uma companhia nessa minha solitária jornada.
sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser. recuso a repetir, pois ali estava meu melhor companheiro e eu tinha confiança – a ultima restada, se não – de que ele sabia quem poderia ser. sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência. queria ser um ser humano para entender direito sobre a inteligência, mas o que me resta é uma mente animalesca nada útil.
catei minhas rosas floridas caídas no chão, reconstitui uma ferida na minha asa e me virei. eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas. era mais fácil aceitar viver na dúvida do que ter coragem de enfrentar o fim. ali fiquei até ouvir o último sopro da minha máquina medieval, que caíra assim como nero. meu castelo pegou fogo, propositalmente, e eu morri em minha utopia, não tão dançante quanto este último. aliás, estava morto há muito tempo, e fui-me caminhando com passos lentos até o dia em que as árvores já me prendiam, me sugavam, se alimentavam de mim, para que uma nova primavera nascesse.
as nuvens que estão ocupando, neste momento, o céu de sua alma vão passar. o sol, que às vezes se esconde por detrás das nuvens, não passa nunca.
se muito, foram duas rosas.


Fora da fantasia ou dentro da utopia

Existe um largo caminho entre fantasia e utopia: a diferença é que os caminhos são contrários. Isso mesmo. Onde um começa, o outro termina.

A utopia não passa de um paralelismo à loucura, uma fuga da realidade. Seria? Então, para que serve a utopia?
Ela está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Porém, contudo, mas e além do mais, serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

Seria a utopia um sentimento? Pode ser, caso ele seja construtivo. A fantasia é um caminho restrito ao interior e a sonhos. Sentimentos também podem ser fantasia.

Eu creio que o amor pode fazer a mais bela das ligações, das mais belas até as mais pequenas... Até mesmo da fantasia e da utopia.




quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E o destino, até onde ele "existe"?

Deparei-me com esta questão estes dias. Até onde o destino existe?

Existe até aonde traçamos planos. Faculdade é um plano, um destino. Traçamo-no. Aí que as adversidades do tempo atuam, caso você tome uma bomba no colégio e adie esse sonho traçado. Além de conhecer as pessoas que iria conhecer caso não tomasse bomba, conhecerá novas pessoas. Sairá com novas pessoas. Terá outro círculo de amigos.

Mas a tal bomba pode ser uma influência direta do homem ou também é o destino?
Depende. Você pode traçar sua propria bomba, causar a adversidade da sua vida, ou pode ser por necessidade escolar. Às vezes, uma tragédia pode ter acontecido naquele ano e você não conseguiu unir os fatos, muito menos a vida e a escola. É um caso a parte. Ou seja, ora somos "donos" do nosso destino, ora fatos involuntários ("acaso") são donos deste último.

O destino é como uma larga e enorme avenida: ela tem várias rotas que fluem dela para outros lados, várias ruazinhas. Algumas ruas de terra, que seu carro pode atolar. Algumas ruas normais, que te levam para outra Avenida e, por fim, a eterna avenida. Vale lembrar que os caminhos mais ousados são aqueles que mais podem quebrar seu carro ou despertar a adrenalina...

...porém, sempre levam para outra Avenida.