a noite toda passei estudando para a prova de hoje. horas de concentração e dedicação para tentar progredir na matéria. curiosamente, ouvi barulhos; barulhos inquietantes por toda madrugada, uma vez que virei a noite estudando. continuaram até de manhã; não paravam.
assustada, subi no andar de cima da casa pra ver o que era: ninguém abria a porta, ninguém falava, por mais que o barulho já tivesse acabado. eu já estava bem nervosa, ora, isso não é normal. rapidamente, peguei a chave pra abrir a casa.
o mundo dele é bem severo. tento descobrir, não entendo. como diz Machado de Assis em seu livro "Dom Casmurro":" Capitu possuía 'olhos de cigana oblíqua e dissimulada', mas para Bentinho os olhos pareciam 'olhos de ressaca'; 'traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca,'uns olhos que atráem, e, ao mesmo tempo, não dizem nada e tudo ao mesmo tempo". talvez a doença tenha consumido já seus olhos, já que tentam dizer o mundo, mas somente conseguem expressar nada. mas são estes olhos verdes, olhos enigmáticos, que me deixam aflitas.
eram 4 horas e meia da madrugada. a casa estava revirada; o telefone, jogado no chão. folhas para todo lado, uma cadeira em cima da outra não sei como, o tapete totalmente enrolado, a mesa de pedra pesada torta, a cortina totalmente puxada de maneira brusca e o velho num canto, sentado, dormindo com a mais pura doçura do mundo. a cena foi chocante, parei na hora e fiquei observando.. como pode?
imagino o meu sofrimento, o sofrimento da minha vó, da minha mãe, do nosso vizinho que veio ajudá-lo a fazer tudo.. imagino o de todos. mas o dele, meu amigo, é bem superior. tenho certeza que, por trás dos seus olhos verdes e velhos, há uma alma piedosa que acalanta severos traumas e limites humanos. mas não tenho certeza suficiente, ora, por isso quero entender seus olhos. pobre velho, acho que inquietamente tenta se fechar em um pequeno quarto, se isolando do mundo (claro, psicologicamente, não fisicamente). ninguém o entende, e ele mesmo não sabe expressar de maneira nenhuma. são cenas do dia a dia que me intrigam. às vezes, penso que a vida é difícil. já passei por montanhas de gelo e cavernas obscuras, quem me conhece sabe bem que minha vida sempre foi e sempre será uma luta. venci; hoje estou aqui.
você não daria banho em um doente nem por um milhão de dólares? primeiramente, estamos num mundo onde a aparência e a gozação com o próximo é a intenção que temos a cada momento. precisamos é de menos dinheiro e mais humanidade. precisamos de menos violência e mais respeito. precisamos de menos desenvolvimento e mais amor. isso tupo porque, inevitavelmente, estamos desenvolvendo para uma geração oblíqua e preconceituosa, sem valores éticos e nem morais suficientes para sermos classificados "humanos".
e, de novo: você não daria banho em um doente nem por um milhão de dólares? eu também não, ou talvez. só por amor se dá banho em um doente. uma vez me disseram que a tristeza é algo ruim, realmente ruim.. mas aquele que nunca a viu, nunca reconhecerá a alegria.
Agosto de 2008

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